18 de abril de 2016

NASCI

Foto: Diego Vara
Este poema me ocorreu hoje, no ônibus, influenciado pelas tristes cenas de ontem e pensando sobre como deve ter sido difícil a decisão do meu espírito de encarnar neste mundo. Compartilho com vocês e o dedico ao deputado Jean Wyllys por me sentir representado em sua postura ontem:

NASCI
Não era como esperado.
Podados, os valores não vingam,
passam aflitos sob o sol;
Um corpo sangrando no mar.
Pecar nunca foi tão lucrativo.
O nome de Deus na boca dos sujos.
O apodrecer dos grãos nas mãos dos espúrios.
Uma manada que atropela o avanço.
Banidos estão os heróis.
Bandidos se proliferam na estação.
Pesares deslizam nas encostas.
As costas celebram chibatas.
Que porra é essa?
Como passar alheio?
Como louvar o bonito?
Falta estômago para sorrir
neste jogo de veneno e cinismo.
(Max Fonseca)

11 de outubro de 2013

Mesa de Canto



Mesa de Canto
Luanda, Angola
Ninguém pode viver sua dor.
Por mais que a mão se culpe,
range na porta o tombo da vez.

Insensatez é chorar tão longe.
Deixe o pó, o vento quem trouxe.
Deixe as sombras se a luz apagou.

Há sempre um verso para ir adiante
e sempre um gole para recomeçar.

Encontre seus próprios clichés
e engula, de vez, toda essa saudade.

(Max Fonseca)

15 de agosto de 2012

Domingo


À Andréia Coelho

Toda vez que você vai embora é domingo;
Um eterno domingo de tédio e solidão.
Na tevê, todos os canais insistem Faustão
e a empregada não apareceu pra arrumar a casa.

As roupas acumulam-se sobre a cama.
O mercado só funciona até meio-dia.
A pia implora misericórdia e atenção.
E eu, saudade e mansidão, só queria dormir tarde de novo.

2 de novembro de 2011

Novembro

Foto: Pensar na vida, por Joao Gonçalves.


Aos sábados, eu janto com meus irmãos.
À mesa, todas as nossas verdades.

As esposas conversam no sofá.
A televisão fala algum outro idioma.
As crianças brincam com o cachorro,
que prefere correr pro quarto.

Embarco em alguma história de poder.
Ao passo que me distraio.

O carro aguarda sob a chuva.
As poças acumulam-se na calçada.
O vento grita alto na janela,
que é fechada por meu pai incomodado.

Eu apenas observo. Pouco falo.
Mas até provo a sobremesa.

O retrato evidencia-se na estante.
Algum dos netos pergunta sobre a avó.
E o silêncio de todo o mundo
se pronunciana boca do patriarca.

Um felino desavisado aponta no jardim.
E o cão escarrera a questão das crianças.

O gato se salva, mas meu pai,
de janela fechada,
escuta este vento de saudade
que soprou em nossa casa.

(Max da Fonseca)

21 de setembro de 2011

Desjejum

Ao apetite.

É chegada e com bons olhos a vejo.
Eu poderia dormir na sombra dos seus seios
E ver tevê nos seus olhos até no sono pegar.

É chegada e com ternura recebo.
Eu poderia me banhar no molhado de seus beijos
E, sem receios, te suar de imprudentes carnavais.

É chegada. E isso basta para tudo melhorar.
Abençoem os Orixás que a ternura nos achou.
Do tempo que restou, façamos um jantar.

E nos sirvamos temperados com fondue.
Sem norma de etiqueta ou fina estampa.
O jejum acabou. Comecei pela sopa.

(Max da Fonseca)

7 de abril de 2011

IDA

“Irremediavelmente livre”
(Luís Antonio Cajazeira Ramos)

A verdade é que quando os amores passam,
Uma poeira levemente umedecida se assenta.
E é na poeira que eu me presto maior atenção.
Não fosse pela rinite, nela ficaria.

É chegada uma hora onde amar não basta,
E até aquela canção de cantarolar fica enfadonha.
Os defeitos não são mais um charme da vontade.
Eles aborrecem. E, aborrecido, me desligo.

Eu sempre saio exatamente como cheguei:
Numa cumplicidade absurda com tudo o que sinto.
Não dá para viver sob a tutela de ninguém.
Nada que retém, me ilumina ou engrandece.

E os dias passam guiados pela auto-suficiência,
É claro que é só uma máscara pra me convencer.
Solidão é estar ausente dos amores que me dão.
Liga o som que eu vou sem pressa. Chego já!

(Max da Fonseca)

21 de dezembro de 2010

LADEIRA


Eu, de fato, gostaria de ter sido eterno.
Internamente pouco me faltou,
mas também sobras não me houveram.
A quietude é que incomoda o lago;
Desse lado me reconheço água-corrente; cachoeira.

Já não me sentia objeto de desejo.
Não fosse a lonjura, teria ido;
Não fosse a doçura, seria menos.
O beijo nega calor - abana o gelo.
E o coração aperta na lágrima do tempo.

Talvez me faltassem os músculos,
Quem sabe fora o cheiro.
O certo é que o olhar tortura
E a noite que perdura adormece algo;
Um cansaço que se apossa e não mais livra.

Haveria uma batalha eterna a se travar
E esse soldado aposentado se perdeu na permissão.
Com as mãos feridas, ensaiado pro carinho,
Ajoelhou frente à guerra e rezou o pacifismo.
Chame egoísmo ou covardia; eu me sinto piedade.

Houve um último esforço. Adormeço.
Não fosse a história, teria sido;
Não fosse a memória, seria casto.
O caso é que o verão nem chegou
e ao sol que raiou não nos coube iluminar.

Com o rosto marcado pelo suor da saudade
E a face tristonha com o gosto da decepção,
Semeio o coração e, apesar de todo o cansaço,
Eu amanheço na certeza que, acima da ladeira,
adormece a minha paz.

(Max da Fonseca)

20 de abril de 2010

COVIL

A Fabrício de Queiroz Venâncio.


"O difícil é aguentar até que a morte chegue".

(Ruy Espinheira Filho)


O cheiro ficou no lençol.

Cabelos e pó pelo chão do quarto.


Vazios, os armários, as gavetas;

Paira uma saudade embrutecida

pelas tormentas matutinas.


Deverias me deixar ao anoitecer.

Ninguém se vai ao meio-dia.


Sombrios, os espelhos, as cortinas;

A poltrona ainda mira sua chegada

e a espera descansa em nosso lar.


A vodka ainda lembra você, não bebo.

O cinzeiro não me aguenta mais.


Manchados, os retratos, o carpete;

Escrevi poemas em seu nome

e me dediquei por cortesia.


Alívio tolo; consolo inútil.

Tudo passa; passarás.


(Max da Fonseca)

12 de abril de 2009

SUBTRAÇÃO


"Judas, é com um beijo que entregas
o Filho do Homem?" (Lc, 22, 48)

Do sorriso fez-se tempestade.
Tempestuosamente despencou,
chuva forte, seca, destra;
navalhando a pele fraca,
molhando a cara suja.

Eu, um culto à perfeição,
cuja sorte do zodíaco
contemplou em tom homérico
fiz-me erro. Entre mangue,
sangue e conhaque, tombei.

Senti o gosto da lama,
o tato do chão.
Tilintou a taça azeda;
seus cacos me cortaram.
Marcado, eu gemo; um fraco!

Não há máscara, nem véu,
nem maquiagem ou forca
pra disfarçar minha vergonha.
O abismo me espreita;
Uma platéia me assiste.

Contido no inferno,
eu, arrependido e desolado,
sob lâmpadas e holofotes,
sapateio meu perdão,
no amor de trinta moedas.

(Max da Fonseca)

11 de fevereiro de 2009

SOBRE SOLDADOS E SORRISOS

"Que sorrisos sejam simplesmente sorrisos"
(Fabrício de Queiroz Venâncio)

No retrato, recordo o sorrir.
Um ato já tão banal pra mim
que simulá-lo pro espelho,
afim de me convencer algum prazer,
parece tortura, loucura, miragem.

A barba por fazer condiz ao ego
já tão sofrido e massacrado.
Desacredito que ser soldado,
dito condecorado patriota,
seja ser um cidadão tão bom assim...

Eu não nasci para matanças.
O olhar pueril de um civil inocente,
quase sempre, me martiriza:
O meu fuzil treme e, abalado,
não consigo ir ao disparo...

Tranqüiliza-me perceber o humano
que ainda me contém. -Não é o fim.
Penso, esperançosamente,
crente que o sorrir não será, pra sempre,
um impotente sonho ideológico.

Dizem que muito logo acabará,
essa guerra desprovida de um sentido,
que me convença da necessidade de um tiro.
Anseio a permissão para piadas inocentes;
anseio pelo regresso ao tempo do sorriso.

(Max da Fonseca)

13 de janeiro de 2009

GRAVIDADE

Talvez sejamos lunáticos,
nessa contemplação obtusa
de sentidos tão subjetivos.
(Mas que importa a sanidade
dessa realidade tão sem-razão?)

Conhecemos o caminho do sorriso
e nesses passos metafísicos,
movimentamos as vontades;
nos conhecemos de verdade
e despertamos poesia.

Nascendo Sol em dia limpo;
borboletar em límpidos jardins,
verticalizando o horizonte...
Tudo faz tanto sentido
no sentimento que nos contém.

Não haverá ninguém que possa
para nós abrir a porta
que conduz à felicidade plena.
Dançaremos levianamente pela Lua;
meu poder na carne sua...

A gravidade que nos contenha.

(Max da Fonseca)

27 de dezembro de 2008

REVEILLÓN

Parte o tempo.
E já não tão contínuo
traz, fragmentado,
novos pedaços de esperança.

O ano velho,
quase passado,
permite novos sonhos,
já tão sonhados em outrora.

No relógio, meia-noite,
a passagem acontece
e o tempo,
transeunte clandestino,
vai cobrindo todas as dores.

Tornam-se incolores
as cicatrizes,
marcas de batalha
do sofrimento de baixo.

E a bebida vai mentindo
o cansaço
de um declinado ano-novo
sem maiores novidades.

Que as taças quebrem
e azedem os champanhes;
As mentiras não irão passar.
Sirvam os banquetes,

a fome só aumenta.

(Max da Fonseca,

Aos terturianos que sofrem o pesar de todos. )

20 de dezembro de 2008

A BAILARINA

Ao Vermelho.

Na caixinha mundial a bailarina dança,
me encanta seus movimentos lineares.
Circunflexamente rodopia à emoção
e meu coração, percussivamente,
acompanha o contrapasso.

Geralmente vou passando,
atestando a transitoriedade de tudo,
mas há algo no seu mundo.
Há algo que me muda, me contorna,
e me convence da vontade de ficar.

-Bailarina, quando te tenho em meus braços
me encontro em suas mãos.
É que são tantos teus encantos
Que os tantos santos me contidos
se convertem em oração:

"Ave maria dos meus versos mudos,
não vês?! Hoje quero tudo:
Todas as contas tortas dos amores loucos;
todas as portas certas pra felicidade plena;
todas as alegrias pequenas que compõem a vida
-intensa-.
Quero mais: a Lua, a paz;
você."

(Max da Fonseca)

7 de dezembro de 2008

ELEGIA A SOLIDÃO


O calor dos bolsos
consola as mãos vazias
e os passos vão passando
imperceptivelmente
no frio da noite.

A sombra acompanha,
no mausoléu de solidão
(taciturna companhia)
e demasiadamente
vou lembrando outrora.

A hora nem importa
nada muda, nenhum consolo
vou vendo possibilidades
esperançosamente,
em sorrisos alheios.

Permeio entre becos,
caminho nas estradas,
me perco nas entranhas
e estranhamente
vou seguindo; quase chego.

Passos curtos, pacientes;
a boca calada
de palavras mudas,
resistentemente,
contém suas confissões.

O outro olhar nem desconfia
que tem posse em poesia:
perdido vai seguindo,
e desatenciosamente,
tropeça, mas não olha.

A falta de olhares incomoda
e a porta vai fechando,
vai abandonando a passagem,
desafinadamente,
range a dor de uma ida.

As palavras lançadas ao acaso
invadem em esperança,
chega ao coração calejado
e dolorosamente,
estoura a bolha de um calo.

(Max da Fonseca)

20 de novembro de 2008

PUERIL


Nasce com uma martelada na cabeça
e segue saudavelmente enfermo.
Lhe habita um inferno não notado
pelos anos datados como infância.

Aprende um idioma, uma idéia
que nunca foi a sua de nascença.
E descansa sua vontade de pensar
na prática preguiçosa da aceitação:

"Nunca dizer não! Nunca dizer não!"

Aos dez até faz catequese,
mas já cansado dessa cama cristã...
Acorda sua preguiça e procura-se,
desce em tobogã rumo à consciência.

Melado pela merda de outrora;
inconformado pela hora de agora.
Escala a montanha do protesto,
incestuosamente confessa-se descrente:

"Eles mentem! Eles mentem!"

E na trama da arte que marca,
a juventude é uma arma.
Pois que tremam os palácios:
o encanto acabou.

(Max da Fonseca)

12 de outubro de 2008

ETILISMO

Na gaveta, dormindo
sob cartas e poemas,
o revólver aguarda.
_Ruy Espinheira Filho


De olhar russo e sotaque alemão
ele vem na contramão do seu destino.
Carrega um menino que pinta ser homem,
suado e cansado, na trama da arte.

Parte, curvilíneo e uniforme,
como que desviando dos males do mundo.
Trôpego na sofreguidão do abandono,
cochila sua realidade no sono do bar.

A velha rotina: prende o ar, concentra,
e vira! Sua sina rasga goela abaixo.
Vodca é sua predileção nas noites frias
em que, com demasia, lembra suas dores.

Amores, família, amigos... Já não tem
quem lhe abrace forte no Natal.
Não que isso seja a falta principal,
mas de fato, ser só no mundo, é fardo.

Olhares atentos em sua chegada
ensaiam aplausos pro seu espetáculo.
Afinal, por trás de um bêbado hálito
há sempre uma tragédia a se encenar.

Parte para sua casa desacompanhado
e a falta de si quase nem é notada.
A hora datada: uma e meia do nove de maio;
belo dia de partida... Resolve ir.

Apanha seu revólver calibre dezoito,
herança de seu avô militar.
E decide por um fim na noite mansa;
convida pra dançar a Morte; dispara.

Antes que a tara suicida lhe goze na cara,
ele se retorna, se repara; regressa!
Interrompido por um comentário sem valor,
ele xinga 'Desgraça!' sem pudor e cospe!

-Acorde, senhor, o bar fechou há dez minutos.

(Max da Fonseca)

7 de outubro de 2008

RINITE

O lençol dobrado
sobre a cama fria.

Alguns papéis amassados
no chão do quarto vazio.

Um terço quebrado
como a face batida.

Nenhum olhar cheio de vida
pra lavar-me os pés.

Num prato, a essência
se assenta em pó.

Cheirei, cheirei
até feder.

(Max da Fonseca)

8 de setembro de 2008

O JOGADOR

Acordei sentindo o cheiro da vitória.
A glória que eu tanto almejava,
Parecia enfim ter dado a cara
Para que eu a beijasse em contemplação.

Tudo sensação; pressentimento.

Essa cadeia de sensações me veio com o vento.
Não é todo dia que esse vento quente me acolhe,
Nem toda hora que a vitória me escolhe:
É dia de sorte! Dia de sorte! Só pode ser...

Positivo e confiante,

Como antes, quando tudo fora belo,
Levanto, me banho, me benzo e rezo.
“Se hoje eu ganhar, certamente vou largar,
Essa vida tão incerta dos jogos de azar”.

Promessa promíscua.

O dia vai passando e a noite se aproxima.
Apanho minhas rimas, risadas e amuletos,
Parto para o cassino obsoleto, e jogo:
Lanço minha lira aos céus dessa casa, e giro...

Hoje é tudo ou nada!

A roleta está pra mim e tenho que aproveitar.
Aposto tudo, preciso ganhar;
Se eu perder não haverá nem órgãos nesse corpo,
Corpo triste, nada restará...

Coração oco!

Um pouquinho de tensão no girar dos números,
Meu mundo vai ao chão: “Estou rico!”
Mais que isso: “Estou muito rico!”
Dez algarismos decodificam minha felicidade:

Pra minha idade é tudo que preciso.

Vou sair do Recife; morarei no Caribe,
Com vista pro mar. Vou surfar nesse mar de dinheiro
E estacionando minha Ferrari vermelha,
Como o vermelho do sangue caído, sorrir.

Um passo para o meu objetivo.

Agora que enfim existo; agora que SOU,
Partirei ao seu encontro, sorrindo, no trilho
Comprarei o seu amor e lhe terei por inteira,
E quando enjoar de te amar, descartarei...

Como outrora tu fizeste.

(Max da Fonseca)

31 de agosto de 2008

RELEMBRANÇAS

Um inverno habita em mim.
Todas as chuvas vindas com ele
Me lavam a cara;
Disfarçam minhas lágrimas;
Mentem minha dor.

-É tudo culpa do amor;
tudo culpa do amor!

Essa tristeza que sou,
Que me condena ser,
Escorre pelo meu peito trespassado.
Coração abandonado;
Sentimento baldio.

-Poeta vadio, merecedor;
merece a dor.

-É tudo culpa do amor;
tudo culpa do amor!


(Max da Fonseca)

22 de agosto de 2008

TRANSPORTE COLETIVO

E lá estava eu,
entre estrada e terra seca,
suando o cansaço dos sofridos;
chorando a solidão dos perdidos,
-entretido em minha dor-
quando ela incomodou.

(fechei o livro)

"Mas que gentileza de incômodo!",
pensei eu...
me olhava com seus olhos infantis,
como quem admirasse o brinquedo na vitrine;
ou mesmo como se já o possuísse, fosse seu;
a posse já nem importa,

somente sua pergunta despretensiosa:

"Onde comprou?"
-falava dum brinquedo ou do livro?-
minha lira se falou... loas!
tantas coisas boas se findaram dali
horas e mais horas, perdendo compromissos;
o seu ponto chegou e Fernanda me sorriu.

-tenho medo de sorrisos,
mas o seu me agradou-

(Max da Fonseca)

14 de agosto de 2008

MAQUINÁRIO REVOLTOSO

Preciso de mais óleo.
O meu corpo de robô
já não me cabe,

A velha dor,
já tão doída,
hoje é calejada

e pancada por pancada
me faz rir.
-às vezes choro.

Tentam me convencer
que sou uma ferramenta:
matéria-prima de um mundo decadente.

Não sou demente, por meu pai
e sua sábia educação.
Não me permito ser.

Eu observo,
Vejo tudo que planejam contra nós,
Desconfio de um complô.

E como todo mau robô,
(que sou)
Emperro na porta de entrada.

Faço greve,
ou qualquer gesto
que contamine consciência.

Incendeio a bandeira;
limpo a merda com dinheiro
e dou descarga nisso tudo.

Eu quero é ser feliz,
não consumidor.
Nego minha condição.

Nego todos os patrões;
nego todos os ladrões...
-só os loucos dizem sim!

(Max da Fonseca)

9 de agosto de 2008

ESTÓRIA DE PESCADOR

"Teu sorriso é uma aurora,
Do Gondoleiro do amor".
(Castro Alves)


O pescador paciente esperava.
Em alto mar, todo chuvisco é tempestade.

Uma lamparina velha e desgasta,
(como a vergonha em sua cara)
Um anzol sujo e enferrujado,
(como os sonhos de outrora)
E uma vara, precisa e implacável,
(como seu coração... inenarrável)
São suas únicas companhias.

Com suas idéias rotas,
E uma bota cheia d'água,
(como essa barca torta em que veleja)
Divide o mar entre antes e pós ele.

Um dia, num velejo longo, numa viagem louca
Uma tempestade inexplicavelmente ameaçadora
(como as incertezas comuns da vida)
Desafiou o pescador e seus anos de mar:
A sua barca quase não agüentou,
Mas seu braço foi forte, sua remada precisa,
Sua fé inabalável...

Secou o rosto acreditando que Iemanjá o ajudou
E, marejado, respirou:

Podia pisar em terra novamente
Com sua estória pra contar.

(Max da Fonseca)

2 de agosto de 2008

TESÃO


A inspiração ereta.
Mãos acorrentadas.
Lanço versos ao ar
e gozo teu libido:
sadomasoquismo!

(Max da Fonseca)

24 de julho de 2008

PENSAMENTOS MATINAIS

"Penso, logo existo". (Descartes)

Acordo, calmo, leve e solto.
E sua imagem, na memória,
Dá-me 'bom dia' com café na cama.

-Cinco horas da manhã pensando nela.

Levanto, me banho, me arrumo e vôo.
Seu cheiro ora acompanha, ora guia:
Meu faro treinado, encantado por ela.

Sei que ela dorme, enquanto estudo
Uma forma qualquer de lhe ter por perto,
Na certeza que o certo é tê-la comigo.

-Passo o dia sonhando aconchegar-me em seu abrigo.

Se a hora não passa, interrompe,
E pára num momento qualquer do dia,
Não me importa, sem diferença:

-Vivo o dia na eternidade da lembrança do 'bom dia'.

(Max da Fonseca)

15 de julho de 2008

TRONO


À uma riqueza
recém-descoberta.

Hoje Iemanjá me veio cobrar
Teve ciúmes - talvez fora o perfume
Ou a poesia que não te dei,
Mas em outros olhos me perdi.
Em outro sorriso me encontrei.

Eu falei de como foi lindo,
Expûs tudo que gostei.
Ela corou, sorriu, chorou...
Entendeu que seu filho cresceu,
O Sol nasceu e o dia é de luz.

Esperançoso comento minha paixão,
Iemanjá me beija o coração e abençoa.
A mãe entende que seu filho é rei,
Seu trono é um sorriso. Entende tudo,
Só não, o perfume que não lhe dei.

(Max da Fonseca)

-Sinto cheiro de felicidade!

6 de julho de 2008

PERFUME



A um sorriso.

“...era um sorriso e o era dos pés a cabeça.”
(Armando Cosani)

Todos os desejos do mundo são meus.
Sou eu-hedonismo em satisfação profunda.
Meu coração, minerador de sentimento puro,
Anda a perder-se em sorrisos alheios.

Estava em uma fortaleza, talvez senzala.
Eu sou mesmo escravo e senhor de mim.
Foi assim, entre palácio e ruína, que a vi.
Pensei: visão; loucura; miragem...

-De certo não podia ser.

Talvez (quem sabe?) fora o jazz ou blues
Que embalou os sentimentos tortos.
Mas na cadência dessas notas turvas
Me embalei em suas curvas... Perdi-me.

Nada foi dito, nem feito, naquela noite fria.
Desejei em demasia um só gole, um toque.
E na loucura dessas vontades súbitas
O seu sorrir me fez feliz.

-A distância desses corpos incomodou.

(Max da Fonseca - 06/06/08 - 12:00)

28 de junho de 2008

ÍNTIMO


Minha cor preferida é branca.
E todo azul, que é céu, ou mar
Me encanta.
Me mata.
Fascina.

Meu amor preferido é simples.
E todo blues, ou jazz, que é triste
Me ensina.
Me alucina.
Transforma.

Minha vida preferida é torta.
E todo caminho, que é passagem, ou porta
Me desvia.
Me encaminha.
Perdido.

Meu sonho preferido é voar.
E toda asa, ou sonho, que é lindo
Me tira.
Me inspira.
Deliro.

Minha lira preferida é livre.
E toda métrica, que é corrente, ou regra
Me esconde.
Me mente.
Tortura.

Meu poeta preferido é rimado.
E toda poesia, ou prosa, que é frio
Me aquece.
Me esquece.
Ardor.

Todo verso que inspira e cospe - amor, é meu; sou eu.

(Max da Fonseca)

23 de junho de 2008

PAR: Versos Reais


A bebida suave me envolve.
Levito e me transporto
A um porto qualquer que me aporte.

Hoje sou portas abertas,
Mar revolto a te engolir;
Loucura cadenciada no tempo;

Hoje sou cama desforrada
Cheirando a amor.

Sou brisa corrida, passada,
Provocando arrepios.

Todas as chuvas lavaram meu rosto;
Cara-limpa: amor-novo.

Pretensão de um sonhador qualquer.
Faço um ode ao que me ergue.

Sou rei ao seu trono;
Majestade amada nos palácios reais.

Sou a língua do teu beijo,
E a pele de tua carne,
E a carne do teu osso;

Ambos somos essenciais.
Um a um. Um ao outro.
Um par.

(Max da Fonseca)

19 de junho de 2008

INSANIDADES ENSURDECEDORAS

O silêncio suprimiu as palavras
esgotadas, as idéias somem
marejados, os amores se perdem
feridos... na mortalha da dor

Os desejos, antes inquisidores
hoje já não sabem falar
mudas, as certezas choram
tortura: teu olhar no meu olhar

Aplico a veio no mortal veneno
cuspo a língua em decorrência
o sangue a espirar, a dor a navalhar

Passado, foi o que restou
o olhar claro da lua se enevoou
ficou apenas o perfume
e este papel amassado, rasurado
fluindo o nosso perfume no ar

(Max da Fonseca e Thiers R>)

18 de junho de 2008

SEM ASAS: PASSOS CURTOS


No banco da praça sentamos. Eu e minha saudade.
Jogamos milhos aos pombos - rotos - sem noção
Vivem a mendigar migalhas batidas pelo chão.
Eu voaria se tivesse suas asas... Ah, liberdade.

Hoje que todas as dores do mundo são minhas
E que todas as esperanças voaram pelos ares,
Vim sentar na praça. Não vou chorar minhas desgraças,
Nem gritar meus ais. Negarei os bares.
Eu só quero um café quente com migalhas dos pombais.

Eu quero, em um mar de tesão, me afogar, e morrer,
E inchar. Só queria viver os sonhos antigos.
Rever os velhos amigos. Brindar à boemia! Gozar!
Tristeza... Eu quero poesia. Eu só quero poesia!

Levantamos compassados e partimos, caídos, antigos... a passos curtos.

(Max da Fonseca)

9 de junho de 2008

O VERMELHO DO VENTO

O Vermelho do Vento

O vento carrega meus segredos.
de porta em porta revela.
sincera e honesta (mente), nega
tudo que foi dito e acelera.

Partido, ido, sem volta;
com sofreguidão, doído na porta,
vende-se por qualquer trocado,
barato, em cortesia.

-Não ha poesia que o revele,
nem maresia que o adormeça.

Ah, vento maldito!
parte por sua brisa, fria, cria, mal-vista
e me esqueça!

(Max da Fonseca, aos “incômodos na fechadura da pele”.)

16 de maio de 2008

PAISAGEM


PAISAGEM

"Somente a ovelha negra fica impune
Enquanto o bom pastor toca a sua flauta"
(Luís Antonio Cajazeira Ramos)


Há um cacto morto na linha do horizonte
Esta terra, de não sei onde, já não é verde.
Estes rios secos sem inverno nem utilidade
Fornecem a imagem tal qual a de um deserto.

Andarilho dos sonhos partidos, cansados
Caminha em busca de sua musa Felicidade.
Com todas as suas verdades negadas
Segue fantasma, segue enfermo, coitado.

Água: só a lembrança do poço vazio
Sombra: só a das rachaduras
Vida: só a do aroma da semente murcha
Alegria: não aqui, junto ao estio.

No caminho acha um pasto, bonito pasto
Onde sós, ovelhas negras, residem o sonho pastoril.

(Fabrício de Queiroz e Max da Fonseca)

22 de abril de 2008

COCHILO

Cochilo

Cavaleiro medieval a vagar no metrô.
Meu pênis e meu tênis vermelho
Caminham à luz no fim do túnel.
Robô. Sou, você também.

Minha mecânica não é complexa,
Nem devassa. Preciso só trocar
Um pouco de óleo no barril - anil.
Preciso só de uma coisa pra amar.

Filho bastardo de pais ingratos,
Pago com ingratidão a “sofridão” chorada
E gozo em teu voraz libido vinagre.
Horror. Sou você também.

Não há beijo que me acorde nem vintém que me pague.

(Max da Fonseca)

18 de abril de 2008

HORIZONTE


As pupilas novamente se abrem, cansadas
Admiram a paisagem - bonita paisagem interior.
O corpo caído ergue-se em esperança - não é criança,
Mas chora (de alegria), e ora, e cresce.

O mar - admirável cúmplice - perpetua o firmamento;
O momento é intenso, o beijo denso e o sorriso pleno;
Não há juras, nem promessas - apenas sentimento,
Que completo por si só, já acalenta, completa e supre.

Sete dias de amor! Tudo ainda exala primavera...
Quem dera, meu deus, quem dera?! Quero tudo assim!
E que a vida enfim sorria esse meu sorrir feliz.

Só quero um ciclo de uma semana de amor
Não sei se sou, nem se vou, nem se faço...
Estou laçado, confesso: laçado. Estou ar limitado sem recato.

O horizonte é minha cura na candura dos teus olhos tão sinceros.

(Max da Fonseca, à Renata Rangel.)

7 de abril de 2008

As Vertigens de um Olhar na Solidão

AS VERTIGENS DE UM OLHAR NA SOLIDÃO

Magro, de tanto ficar em pé nesse terminal
Certos trens não chegam nunca - foram partidos
Todos idos e sem volta; cansei, vou contornar
Cantarolar a canção mais triste e partir desiludido

O meu destino foi vendido em um restaurante barato
Em leilão arrematado por alguns trocados sem valor
É tudo que sou. Cachaça bebida em um beco por artistas
Tragado no lixo de um cigarro mal fumado

Estou cansado! Confesso: Cansado! -nocauteado no chão
Os braços por meses esticados a clamar um abraço
Agora se retraem e enfim entrelaçam-se em si
Está tão frio... Tão frio... E eu aqui submerso em solidão

A vitrola cansada não mais me canta o que peço pra ouvir
Ouço vozes roucas a gargalhar meu sofrimento - corvos
Gira eu, gira o mundo, em um momento só meu - tortos
Sem nenhum espaço pra mais nada que não seja eu - egoísmo

Nenhum quarto de segundo me foi dado - cruel tempo
Murcharam-se rosas e aguçaram-se espinhos; todos armados
Dispararam em um tiro no alvo (caído alvo).
Ficou a pólvora no chão e um romance inacabado

(Max da Fonseca)

3 de abril de 2008

A Infelicidade de Ser


A cabeça é aberta com navalha
Não se fecha, deixa lá exposto
Como lixeira de seca palha
Cheia de idéias amassadas e esgoto

Há caminhos e fezes de ratos
Não é penteado - ideologia!
Mascarado pro baile de gala da vida
Brindamos à putaria - fiel putaria!

Diz-se melhor que esse ou aquele ali
Diz-se superior a muitos - falta humildade!
Não farei mais poesia!

"Eu sou você, sou você
E você não sabia!"
¹

(Max da Fonseca,

1. Ouçam a música "Alegria na Cidade"
Comp.: Lazzo/ Jorge Portugal)

27 de março de 2008

Pântano neural


Sentei em uma mesa estranha -acompanhado
Tomei um café amargo -triste café
Brindei em louvor a todos os sentimentos clichês
E me entreguei de vez a embriaguez de poesia

Rabisquei palavras ordinárias em um guardanapo
Limpei a merda do cu e paguei em dinheiro a bebida
Tomei a “saideira” pra sarar as feridas - lazarento
Eu nojento. Sou essência inversa de alegria.

Mascarado na intimidade - armado até os dentes
Não há deus que me subjugue, nem coração que me caiba
Sou ancião de pouca idade. Sentes? Doente, triste poeta.

Retorno ao meu lar, o quarto - esconderijo apedrejado
Vejo meus morcegos a gritar seus ais, marejados -raiva
Eu rastejo como cobras-emplumadas, nos pantanais:

Não há deus que me subjugue, nem coração que me caiba.

(Max da Fonseca)

24 de março de 2008

Bip



A princípio só uma imensa escuridão
Não há sombras - ausência de luz
O pensamento vagueia em corpos nus
Nunca houve amor - apenas tesão

Um sexo banal por meio às flores
Velhas a colher violetas em contemplação
'Tic tac' no relógio, é Morfeu em penetração
Um pintor pintando arte em todas as cores

Pintura borrada - é o amor
De repente chove e é deserto
Camelos a passear, neva -inverno
Um súbito frenesi do ator

Fecham-se as cortinas vermelhas
Os olhos para não ver apertam-se
E ao abrir cumprimentam-se
zarolhos, sangram as certezas

Tiros ao alvo e pessoas correndo
Abrem as cortinas novamente
Um corpo agachado doente
Sou eu, já não sou mais- veneno

Um estalo e a calmaria se finda
Comendo um doce a menina me acena
Cumprimento-a em mensura pequena
Que delícia de menina linda

Outro estalo e feliz aniversário
Rasgo os embrulhos dos presentes
O que mais me agrada é de um demente
-colega de quarto- Um relicário

Uma penetra adentra minha festa
Vem maltrapilha de mãos vazias
Chega com filho, mãe, tio e tias
Apresenta-se com um sorriso na testa

Questiono sua presença desvirtuada
Ela pega uma bebida -champagne na taça
Bebe a bebida e come a taça na raça
Não a digo mais nada - não há palavra

O chão se abre e sinto-me caindo
Falta apoio por sob meus pés
Escuridão maldita a arrancar-me os viés

Um 'bip' desperta o corpo dormindo.

(Max da Fonseca - 24/08/08 - após um sonho estranho)

18 de março de 2008

Torpor


Joguei um beijo, mas ela não pegou - foi ao chão
Não sei se por isso amor, nem se assim paixão
Há tesão -e ele me basta-... então lhe vou!

Percorro todas as tuas curvas. Na nuca...
ah arrepio! É o frio na espinha, o supiro do sim
É tudo que queria ouvir, enfim, não páro:
-dispáro, veloz, algoz... Invado-me de ti!

Contemplo teu sorriso, meu paraíso - inferno: perdição
Te ligo ao celular, não atende... me entende e não se rende
Que será do amar? Sei que há coração - fortaleza intrasponível
Sei que há sentimento escondido, sem motivos, nem razão

Recolhes então o jogado beijo em flagelo -torpor- caído
E me inclui em teu mundo -de amor- poeta vencido.

(Max da Fonseca, -continuo nadando- 18/03/2008)

14 de março de 2008

Força Bruta


Oh deus celeste plasmático, me salva do ócio
Me salva do acaso... Prostro-me de joelhos
-Ou deitado- Não importa a posição...
A adoração é suprema e a divindade irrevogável!

Acomodado em minha preguiça: pecado regenerado
Eu vou do inferno ao paraíso em botões; não há rosas
Oh, sou sortudo ou coitado... Mas não sou só, tenho o pó
E a deus em minha companhia... Haja supremacia, louve a tecnologia.

Deus evoluído ao colorido, mas há racismo...
Tomo minhas medidas, drásticas saídas: ajusto a saturação
E saturado lhe faço ora preto, ora branco...
Oh deus, também vos ensino em lição.

Sou eu quem lhe define o brilho – Dou-te a candura,
Mas se não aprendes e persistes em errônea clausura
Sinto, mas me faço infiel. -sou maldito! -sou banal!
E te conserto à força, nem que, para isso, tenha que trocar de canal.

(Max da Fonseca)

12 de março de 2008

MAGIA GREEN



garota da trança verde
em teus olhos
penetro
o instante diluído
da minha eternidade
garota, abre esses verbos green
solta úmidas linhas
me traz como oferenda
pelo mar
a trança-espuma
que rodopiam pés
perco-me no encontro aceso
de tuas linhas
meto-me
no escuro de tuas formas
na boca, nos ouvidos
em tudo que me caiba
garota, desalinho-me em ti
perdido
em teu labirinto
ah sim... lhe yes!
garota, abra o sorriso
-confesso eu sou-
eu vou a teu fundo
exploro tudo
e me perco
amor.

(Thiers R e Max da Fonseca - 12/03/2008 - 00:19)

11 de março de 2008

Puro Retorno

Numa folha de papel reciclado, como o amor,
Escrevo versos limpos (ao menos desta vez).
Limpo toda a sujeira da embriaguez
E descanso o fígado, eterno sofredor.

Brindo o vinho tinto e desembarco em seu porto,
Atraco todos os navios: que venham barcarolas!
Sou pirata em desafio roubando versos da aurora,
Deixando cicatrizes pelo corpo - suado corpo.

E se um dia a morte me disser que vou,
Te deixo a carta, em testamento tudo que não sou:
-jóia rara, flor-de-lis, arco-íris, pureza angelical

Mas se não te agrada; contorna, não demora,
Levo embora tudo que não quis, e te deixo agora:
-os músculos, a carne, o olho de vidro e a perna de pau.

(Max da Fonseca)

5 de março de 2008

CORINGA


...Mais cuidado agora, nem se arrisque a me engolir
Eu sou indigesto -que lhe diga a Esfinge afoita a me devorar
Já queimei na fogueira da inquisição - fui carvão- por incestos que não cometi
Mas renasci, só, nem esperei virar pó -sou autor de mim

Sou assim, um acorde maior sem desafinar na orquestra erudita
O 'v' da vingança, consagrado na verdade veredicta
Sei que canto os encantos nos banheiros alheios
Mas disfarço os meus santos nos meses derradeiros

Eu sou livre como Osíris abraçado a Isis - no amor
E conheço meus pecados -já julgados- de nascença
Perco-me no labirinto da descrença, paciência...
-Me abandono por preguiça de me procurar.

Eu sou jogador veterano: Escrevi manual pra amar...
Meu coração é albergue de mãe, é lar, é cais
Mas nem se confunda -não sou dado pro azar
E sempre tenho na manga -cigana- um coringa pro seu ás.

(Max da Fonseca, a Luís Antonio Cajazeira Ramos) 21/02/08

28 de fevereiro de 2008

Musa


Gosto de tua loucura inerte que me movimenta ao infinito.
Eu ar, apenas limitado pelo envolver de teus braços... Mito!
Gosto dos teus gostos clichês de viajar no tempo
movendo todos os ponteiros, sem pressa, sem exageros, sem erros.

Gosto e sinto o gosto de teus lábios delimitando e pintado o meu em batom,
Esse seu poder de sedução, um olhar fatal, letal - paixão
Eu gosto do seu poder que me influencia, me faz submisso;
Enfim pacífico na brutalidade da selvageria - tesão

Gosto da sua arquitetura tão complexa que se faz invejada,
Todos a admirá-la... Castelo de areia a resistir furacões.
Gosto de suas invenções tão bem boladas;
Fico impressionado, admiro seu retrato... Perfeição.

Gosto de tudo que diz sem as palavras, eu sinto.
Amo a tua vaidade e todos os seus olhares ao espelho,
Se embeleza e na vontade me nega os seus beijos -desejo
Eu me desespero sem você -minha droga, dependência- eu te amo!

Eu me perco no labirinto de suas metáforas, me confundo
me esqueço em você. Eu love, tu amor... Amamos!
Meu enigma mortal, admiro todos os seus defeitos -charme
Gosto do querer da carne, me entrego, me submeto -se arme- é nossa guerra!

(Max da Fonseca)

23 de fevereiro de 2008

Artista


Eu sou um brilho vulgar num céu qualquer,
Não sou aquarelado, nem mesmo pintado
Sou borrado, um rabisco ordinário,
Numa tela famosa de um famoso pintor

Sou uma paisagem na madrugada
Um noturno vadio, uma escultura não apreciada.
Eu sou arte e da arte me faço,
Não tenho sucesso, sou inverso, sou fracasso.

Eu sou um poeta que não verseja -marejado-
Um mudo a recitar seus versos -sujos-
Um santo não canonizado -puro-
Uma puta virginal - crença-

Eu sou a benção e a maldição,
Dito contrário, maltrato, maldito. Dito vão...

(Max da Fonseca)

21 de fevereiro de 2008

Perdão


Despertei entediado e no ócio do acaso
Joguei o barro, fiz o homem.
Dei-te um mundo pra morar, leis a acatar
Fiz a culpa, o pecado, o julgo
E já o julguei condenado e sem redenção.

Dei o corpo, a mente, a alma -o absolvi-
Ofereci a capacidade de amar, de se apaixonar
Mas fiz um jogo de intrigas e inspirei a disputa
E o homem se fez, em normas cultas, vilão
Um do tipo liberto, esperto e safo.

Criei a moral e a ofereci ao homem
Fora um pacote bem cheio, diria perfeito
Com honra, nobreza, valor e honestidade,
Mas por amor -enamorado de si mesmo- recusou
Preferira a vaidade.

Desvirtuado eu o ameacei, o exilei do paraíso
Quase seguro que estava certo, o homem pulou o muro
E por caminhos incertos andou
Na margem do Rio dos Sonhos, o homem tropeçou,
Caiu, se afogou. Paciência...

Saiu pensando ser eu, inventou a ciência
-Aprendeu a criar-, mas eu mereço -ou não-
Não fiz nada direito, não fui bom como devia
E hoje me resta uma poesia pra me redimir
Faço desses versos meu perdão:

Versejo nesta carta em desculpas a mim mesmo
Desculpa por ser mais um filho da puta -burro-
Por criar a minha imagem e semelhança o homem -feio-
Por desenhar rabiscos ordinários e chamá-los sentimentos -secos-
Por não aperfeiçoar a minha cria, fria, e prostrá-lo de joelhos.

Perdão a mim mesmo por não ser perfeito.
(Max da Fonseca)

A Xícara está de pé!